terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Céu de Brasília


Mês passado eu tive a grande oportunidade e o imenso prazer de conhecer Brasília, em virtude do estágio-visita de curta duração à câmara dos deputados. Nunca ouviu falar? Veja aqui.

Confesso que sou até fácil de me deslumbrar com lugares e pessoas, mas não é por pouca coisa que passei a admirar esse lugar. Antes dos elogios, vamos às críticas.

É preciso que saibam, de logo, que, como uma cidade, não há nada de tão excepcional assim por lá. Brasília é nua, vazia de gente, desprovida de calor humano e alegria cotidiana (não que o cotidiano seja sempre a mais pura alegria em todas as cidades do mundo, mas enfim...). É duro. Meu irmão a definiu como "uma eterna BR" - e contou com a concordância unânime do grupo. Olhando assim, pela primeira vez, parece ser mesmo uma imensa repartição pública, uma chatice de concreto e monumentos. Tudo lá é tão estrategicamente planejado, dividido e organizado, que pessoas como eu - nada metódicas - sentem-se, a princípio, perdidas e entediadas.

Mas de fato, viajar com um grupo tão bom (de pessoas com a mesma faixa etária) é sempre tão divertido e empolgante, que todos esses detalhes poderiam ter me passado completamente despercebidos, não fosse minha ferrenha determinação em observar cada detalhe, cada comportamento, cada tracinho da famosa capital do meu país.

Observei, por exemplo, que as instituições, repartições, ministérios e afins não têm cadeiras. Isso, cadeiras, bancos, qualquer objeto horizontal para as pessoas descansarem. Veja bem, isso é muito sério, os prédios de Brasília, excetuando, obviamente, as salas das comissões, reuniões, plenários e os gabinetes, não possuem cadeiras! Passei exaustos (positivamente) cinco dias andando pra lá e pra cá, realizando visitas, circulando pela Praça dos Três Poderes, assistindo palestras e sessões, - e em nenhum momento, entre uma coisa e outra, encontrei uma mísera cadeira, num corredor qualquer, para simplesmente sentar e esperar (o ônibus do estágio, a próxima palestra, a hora do almoço). Se eu não fosse tão otimista, pensaria que alguém por lá não deseja que eu, você, “o povo”, passe mais do que o tempo "devidamente necessário" nas casas do Poder Público. Talvez uma singela cadeira nos desse forças o suficiente para continuarmos, digamos, importunando as atividades regulares da Administração, Poder Judiciário ou Poder Legislativo. Mas o que é isso? Como posso me apegar a um detalhezinho desses e chegar a conclusões tão maldosas... Às vezes eu sou triste.

Observei, ainda, que Brasília respira muita riqueza. Não que eu não desconfiasse, mas, poxa, é dinheiro a lot. O custo de vida é tão alto, que – de uma vez por todas - eu passei a entender porque se ganha tão bem por lá, em comparação ao restante do país (mas uma coisa não justifica a outra, se é que vocês me entendem). Um fato engraçado, só para exemplificar, ocorreu no domingo assim que cheguei. Fomos comer pizza num lugar chamado Pontão, um point cultural e gastronômico de Brasília. De pronto, peguei o cardápio e chequei o preço das pizzas: R$ 25,00. Nada Mal!!! Oito fatias, podemos dividir, pedir umas três, escolhe-se o sabor; enfim, procedimentos corriqueiros. Mas o garçom não se conteve, deu uma risadinha marota e se intrometeu de uma vez: “Jovens, a pizza é individual, desse tamanho aqui”. E vocês devem saber qual é o tamanho da pizza “brotinho”.

Por fim (e isso definitivamente é assunto para uma nova postagem), ficou ainda a impressão nada positiva dos nossos velhos (e quase vitalícios) senadores e deputados Federais. Confesso que sou chata, me surpreendi um tanto aqui, um tanto acolá, mas continuo achando que boa parte desses guerreiros não sabem lutar tão bem. Por nós. Ressalto apenas uma questão interessante que ouvi numa palestra. De fato, eu não confio nos nossos senadores e deputados (que droga! Ajudei a elegê-los); mas acredito no Senado Federal e na Câmara dos Deputados. Explico em outra oportunidade.

Antes que isso aqui vire o diário de uma viajante, e antes que eu acabe com a imagem positiva que alguém possa ter da cidade, preciso revelar o que, de fato, me impressionou. É um motivo tão banal que talvez meu caro leitor se chateie. Mas aí eu só lamento (sem ofensas, é só uma piada interna para os meus colegas de classe hehehe).

Perdoem-me, antes de tudo, a mudança de paradigma. Utilizo-me, inclusive, de um trecho do pequeno texto que o Bruno postou abaixo:

“Oh, só essa minha velha mania de acreditar na mudança que não muda”.

Essa é a razão! É em Brasília que as mudanças acontecem (ou deveriam acontecer). Brasília respira história e conquistas (prevista desde a Constituição de 1891!). Não há como descrever a experiência de conhecer bem de pertinho os plenários da Câmara e do Senado (instituições basilares da Democracia); a emoção de acompanhar uma sessão do STF (Tribunal guardião da Constituição Federal da República); as visitas aos museus (uôu, JK!) e atrações culturais, a rica história da arquitetura da cidade, a Esplanada dos Ministérios e o Palácio da Alvorada.

O que me deslumbra em Brasília é justamente o que ela tem de mais incomum. Por ser a Capital, por ser tão rica (e aqui eu me refiro à história), por ser cuidadosa e amorosamente planejada (apesar da seriedade que isso transmite), pela saudável e eficiente política que poderia/poderá ter um dia (eu acredito), pela Diplomacia e por tudo que ela representa à República Federativa do Brasil - eis o encanto que me contagiou.

Tenho tanta coisa ainda a dizer (e ainda passei mais tempo criticando que elogiando,preciso melhorar isso), mas sei que uma boa leitura é aquela sucinta e objetiva (o que eu não consegui ser), razão pela qual escreverei outros textos mais específicos, em outras oportunidades.

Talvez eu tenha sido odiosamente paradoxal. Mas assim é Brasília pra mim – um paradoxo em forma de avião.

Amanda Gabriela

2 comentários:

  1. Gostei das definições sobre o DF.
    Também não conheço, porém sonho um dia conhecer. E quando isso acontecer espero já haver cadeiras por lá! Abraços!

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  2. Parabéns Amanda Gabriela, belas reflexões sobre a nossa Capital Federal !!!
    Um olhar crítico, sociológico, diria eu, um simples estudante de Ciências Sociais.
    Sobre as suas reflexões e etc...
    Coloquei no meu Blog um sobre as Constituições do Brasil, um Link que achei na página do Senado Federal.
    E o outro sobre a Constituição de 1891, que estava falando sobre a Mudança da Capital Federal, na Primeira Constituição Republicana, e a segunda do Brasil.
    Para encerrar coloquei também sobre o Lançamento da Pedra Fundamental de Brasília, e da pergunta que mudou a campanha de JK para Presidente do Brasil, do nosso país como um todo, num especial do Jornal Correio Brasiliense sobre os 45 de Brasília na época, que comemorara 50 anos agora, em 21 de Abril.

    Abraços !!!

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